De início, já não nos oferecem termos, exatamente, justos de contrato…
A contratante nos permite escolher o destino e fazer planos, mas não oferece nenhuma garantia de que as coisas sairão conforme o combinado. E embora isso pareça algo ruim, na maioria das vezes, surpreendentemente, descobrimos que existem lugares bem melhores para se estar do que o lugar que tínhamos planejado a princípio.
A vida não tem guia nem seguro – A classe do voo é inicialmente informada, mas está sujeita a mudanças: upgrades ou rebaixamento podem ocorrer a qualquer momento – e sem aviso prévio.
Estamos sujeitos também a turbulências, e os caminhos nem sempre estarão claros.
Lanternas estão disponíveis em caixas individuais, um pouco acima e a esquerda. Chamam de coração.
Em meu curto percurso até agora, posso dizer que a vida oferece sim prazeres e alegrias, diferentes a cada fase, e ainda assim, consegue se isentar da responsabilidade de nos fazer aproveitá-los.
Mais uma parada!
Onde estamos? Vale a pena? Não sei.
A porta está aberta, viver é uma escolha sua, e de mais ninguém.
Enquanto a viagem acontece, no meio de nossas tantas prioridades, ignoramos o obvio: a viagem termina.
E nossos compromissos tão importantes, enfim, podem ser adiados.
A vida é direta.
Não nega a existência do fim.
Nem explica seus motivos.
O contrato deixa os termos claros.
Nós sabemos como isso funciona.
Mesmo assim, é fato: ter as informações não é o mesmo que ter as respostas. E isso algumas vezes nos maltrata.
Tantos porquês sem resposta.
E não, não importa se você terá uma reunião importante amanhã ou uma prova marcada na sexta. Não importa se daqui a algumas horas tem uma festa de aniversário pra ir, nem se o bolo já foi encomendado.
Desarrume as coisas, cancele tudo, avise as pessoas.
— O pior aconteceu.
Quando o tempo termina. O tempo termina.
Se tinha algo a dizer, abraços para dar… se amanhã ia fazer diferente. Não importa mais. Quando o tempo termina, nos resta lidar com o pretérito imperfeito de nossas ações. Nos resta o que já foi.
E quase sempre parece que não foi suficiente.
Dizem que não se vive de passado. Esquecem da saudade…
E apesar de todos os abusos desse contrato, que assinamos quando nascemos, jamais nos tiram aquilo que uma vez nos foi dado. Dos benefícios que a vida oferece, talvez o mais bonito, e vitalício, se posso assim dizer, são as nossas lembranças – NOSSAS.
Dizem que não se vive de passado, mas hoje é onde eu me encontro com cada pedaço do amor que meu avô ao longo de sua viagem ofereceu ao mundo.
Vô, até que a minha viagem acabe, são nessas lembranças que te visito, que te abraço, que te vejo sorrir e danço com o senhor mais uma vez. É nas lembranças que ouço sua voz e preencho o vazio que o senhor deixou.
Eu sei, a viagem continua, o tempo não para e eu tenho que “ser forte”… Já tem outra reunião marcada e logo a sexta feira chega.
O aniversário desse ano foi cancelado e o que vai ser agora, sem ti, o do ano que vem?
Vô, você entendia bem a distância, colocava meu bem acima da vontade de que eu estivesse por perto. Por aqui, agora, estou tentando fazer o mesmo por você… o caminho de volta para a faculdade nunca foi tão longo.
Estamos nos cuidando, sentimos muito sua falta e vamos ficar bem.
Queria te dizer mais uma vez que te amo, no fundo eu sei que você sabia. Eu sabia também.
Eu sei, a viagem continua, espero fazer sempre o melhor, viver bem como você, e estar sempre atenta aos momentos, porque hoje, mais que nunca, eu sei bem, qualquer um deles (qualquer um mesmo) pode ser o último.
E os fins doem de mais.
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